segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Histórico, Formação e Objetivos da REC/SP

Por Mônica Lopes*

Entusiasmados/as com o resultado positivo que as Escolas de Cidadania da Zona Leste (Ermelino Matarazzo) e da Zona Sul (Jardim Ângela) estava alcançando, um grupo formado por representantes dessas Escolas, da Escola de Cidadania e Política de São José dos Campos, agentes da Pastoral Fé e Política, que acompanha o movimento desde o início, representantes do Instituto Cultiva e outros a quem a formação dessas Escolas havia chamado a atenção, se reúnem no Salão da Paróquia São Francisco de Assis de Ermelino Matarazzo (São Paulo/SP) em 13 de Dezembro de 2012, para pensar uma forma de como se articular para levar essa iniciativa a mais regiões da cidade de São Paulo e do estado. Muita empolgação se notava naquelas pessoas diante da perspectiva que essas iniciativas apresentavam. Esperança para um contexto que apontava para a necessidade de investir alto na formação para cidadania e de lideranças sociais. Ali, foi formada a REC/SP – Rede de Escolas de Cidadania de São Paulo que surge como movimento de articulação para promover e viabilizar as novas iniciativas de Escolas, dar visibilidade ao trabalho das Escolas já formadas, acompanhar e dar apoio nas necessidades que as mesmas apresentarem. “Vocês imaginam se nas próximas eleições para prefeitos e vereadores (2016) tivermos uma Escola de Cidadania e/ou de Fé e Política em cada uma das regiões da Cidade? “ Comentava o Padre Ticão, sem saber que este sonho não só se realizou como também, em 2016 ao invés de cinco ou seis Escolas, haviam se formado quinze. As regiões a que o Padre se referia neste momento, seriam as Episcopais.



A partir da criação da Rede durante este encontro, se sucederam as formações das novas Escolas. Tais como: A Escola de Fé e Política Waldemar Rossi (Região Belém), Escola de Cidadania de Embu das Artes, Escola de Cidadania Olímpio da Silva Matos – Povo em Ação, Escola de Cidadania da Região Oeste – Butantã, Escola de Cidadania de Mogi das Cruzes, Escola de Fé e Política de Guarulhos, Escola de Fé e Política da Região Santana, Escola de Cidadania Padre Chico Falcone (Itaquera), Escola de Fé e Política da Região Ipiranga, Escola de Cidadania de Sapopemba, Escola de Fé e Política de Jundiaí, Escola de Cidadania da Cidade Ademar e Pedreiras e Escola de Fé e Política da Diocese de Campo Limpo.

Waldemar Rossi, amigo e incentivador do projeto de Escolas de Cidadania e de Fé e Política além do nome, deixa seu exemplo de coragem e força como legado para a Escola que se forma imediatamente após a criação da Rede: Escola de Fé e Política Waldemar Rossi. Dizia ele, que depois da Ação Católica e das CEB´s, as Escolas surgem como maior movimento de transformação social, contemporâneo. Uma vez que a proposta é incidir na base de tudo, que é a Educação. Desses trabalhos miúdos, de formiguinhas, de organização de pequenos grupos pensantes e atuantes, poderá explodir um movimento social que fortaleça a resistência popular. Waldemar comentava isso no início de 2014. E continuava, como a profetizar: “As nossas Escolas de Cidadania e Fé e Política, pela sua oportuna atualidade, num contexto de expectativas de novos dias, tem a oportunidade de desenvolver a compreensão desses novos tempos e seus desafios. Assim, elas vêm dando oportuna contribuição aos seus alunos na iniciação ou avanço da prática política. Porém, é necessário que avance sempre, trazendo para suas salas de reflexão o entendimento de que grandes atos revolucionários nascem de pequenos núcleos, mas avançam à medida das experiências e a determinação de criar e recriar o novo da organização coletiva do povo. Seus “formandos” precisam entender que não perderam a capacidade criativa que Deus deu a todos, indistintamente, e que o Espírito Santo sopra seu discernimento sobre todos de boa vontade, cristãos ou não. É também de suma importância compreender que “quem tem muita pressa come cru... e queima a boca”. Por outro lado, assim com um canoeiro que rema contra a correnteza não pode jamais para de remar, caso contrário, a força das águas correntes fazem-no retroceder, assim também é preciso atuar sempre controlando suas forças para que não se exaurem antes da hora.

Corroborando com o pensamento do Waldemar sobre as Escolas, Rudá Ricci, sociólogo, presidente do Instituto Cultiva, apoiador e incentivador do Projeto REC/SP, fez o seguinte comentário: “Enfim, as Escolas não são mais uma entre tantas atividades. Penso que é a saída do nosso momento histórico. O Brasil que saiu da Constituição de 1988 é outro. O Brasil dos 30 mil conselhos de gestão pública (ou setoriais, ou de direitos) poderia ser outro. Conquistamos espaços nas últimas duas ou três décadas. Mas não estamos sabendo ocupá-los. Falta informação e qualificação. Falta articulação. Falta elaboração política e inovação nas formas organizativas. Conseguimos mobilizar e pressionar, ainda que com dificuldades, mas não conseguimos mudar as estruturas de poder. E, assim, repetimos o script infinitamente: pressão, negociação, pressão, negociação. Mas o Brasil do século XXI é muito distinto daquele dos anos 1980. Poderíamos ir além, além da pressão e negociação. Poderíamos ocupar espaços, poderíamos cogerir as políticas públicas, poderíamos contribuir para o Estado ser mais poroso, mais democrático, ocupado pelas lideranças sociais. Se estou certo, mobilizar é importante. Mas muito menos importante que formar é produzir informações para darmos passos mais sólidos e ousados na direção da justiça social e democracia participativa. E as Escolas podem cumprir esta tarefa. “

A REC/SP se define como suprapartidária, inter-religiosa e com projeto de gestão horizontal, onde a coordenação de suas atividades seja exercida pelos representantes de cada uma das Escolas, num Conselho Gestor. Ou seja, não há uma estrutura hierarquizada com coordenadores/as, presidentes/as, secretários/as, etc. A proposta é ajudar e acompanhar as Escolas sem interferir na autonomia das mesmas. A responsabilidade de definir o planejamento, cronograma, metodologia, local e horário de funcionamento, fica a cargo das Escolas sem intervenção da Rede. Mesmo que quando chamada, possa sugerir e ajudar na tomada de decisões.

É inspirador saber que aquela semente que foi lançada em dezembro de 2012, caiu em terreno fértil e tem germinado. Já temos uma história para contar. Mas, sem esquecer que a REC/SP é um processo em construção, e que dela, ainda teremos muito o que escrever.


*Mônica Lopes é Agente da Pastoral Fé e Política da Arquidiocese de São Paulo e do Conselho Gestor da REC/SP – Rede de Escolas de Cidadania de São Paulo.

Fonte: Material utilizado na Cartilha do Curso de Verão 2018 do CESEEP

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